domingo, 3 de novembro de 2013

Terceiro round


Ele era um dos lutadores de boxe mais reconhecidos de sua época. Mas ultimamente tinha perdido espaço nos jornais e no coração dos fãs do esporte com a ascensão de novo grupo de lutadores, fortes e jovens que sabiam muito bem usar a mídia ao seu favor.

Buscava recuperar o tempo e o espaços perdidos e mostrar que, sim, ainda tinha fôlego mesmo diante de todos os problemas que tinha enfrentado nos últimos meses. Para isso, tinha uma luta marcada que seria a chance que precisava para voltar de vez.

Só ele e pouquíssimas pessoas de sua família sabiam de todos os problemas recentes que tinha enfrentado. Ele poderia ter ido a um canal de TV contar o que estava acontecendo. O mesmo canal de TV que tantas vezes mostrava suas lutas e corria atrás dele quando ele vencia. Mas ele preferiu ficar calado.

A nova luta era uma grande oportunidade para esquecer todo o passado, deixar os problemas de lado e recuperar a confiança. Estava até retomando o ritmo dos treinos.

No grande dia, um certo nervosismo tomava conta dele. Ainda frio e nervoso a luta começou. O primeiro golpe veio rápido. Ficou tonto, viu o mundo girar e as arquibancadas embaçadas. Só depois conseguiu se recuperar e voltou à luta.

Aos poucos o nervosismo foi passando e os golpes começaram a entrar. O adversário balançou. Na sua cabeça, ele relembrava os bons tempos em que era dono do cinturão. Era forte, jovem e julgava-se invencível. "Por que não poderia ser assim novamente?"

No momento em que estava nais confiante e melhor na luta, tomou um novo golpe. Na cara. Caiu no chão. Não tinha visto aquele direto passar. "Onde estava com a cabeça naquela hora?"

Tonto e sem saber exatamente o que acontecia, voltou mais uma vez para a luta. Agora com a cara já inchada e ensaguentada.

No terceiro round, ele beijou a lona. Não pensou nada. Estava desacordado. Quando finalmente retomou a consciência e voltou a si, não havia mais luta. Escuro. Estava no hospital.

Ele não era mais o alvo dos flashes e dos gritos da torcida. Os jornais contam que o terceiro golpe foi fundamental para o nocaute. Mas para ele o que mais doeu não foi o soco, o rosto, as pernas ou  o fim. A maior dor era ver que estava sozinho em um quarto de hospital depois de tudo aquilo que tinha vivido. Sem ninguém perguntar por ele.

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